quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Perdas e danos

No meu primeiro dia em Xangai, fui a um restaurante com a minha amiga Angela, o marido dela Lionel e a filha deles Selena. É um restaurante especializado em um tipo de "dumpling" ("ravioli" chinês) chamado shaolong.

No local indicado pela seta (foto abaixo) havia uma mochila, a minha, que foi esquecida quando saímos do restaurante.
A minha amiga percebeu que eu estava sem a mochila uns cinco minutos depois de sairmos do restaurante, quando estávamos entrando em um parque que fica ao lado. Voltamos correndo, mas a mochila já tinha desaparecido, assim como a família de estranhos que estava dividindo a mesa conosco (não os mesmos que estavam no momento da foto).

Fiquei muito irritado com (mais) esse meu esquecimento. Nesse dia específico, não tinha nada de muito valor dentro da mochila, mas se tivesse sido qualquer outro dia, eu poderia ter ficado sem a carteira, câmera fotográfica, celular, cartões de crédito, abrigo de chuva, luva e gorro de frio do Caio, além de muitos outros itens que costumavam freqüentar aquele espaço. Nesse dia, felizmente, o objeto de maior valor material era a própria mochila; o segundo, provavelmente, o cachecol que o Cássio tinha me emprestado. O item mais importante, porém, foi o meu caderninho, onde eu tinha feito todas as minhas anotações desde o começo da viagem, com informações, observações, idéias, além de contatos de pessoas, etc. O primeiro caderninho já estava completo e o segundo tinha acabado de ser inaugurado. Com isso se perderam para sempre muitas das coisas que eu tinha anotado para escrever depois no blog. O segundo item mais importante era o guia turístico de Pequim & Xangai, um guia visual da coleção Eyewitness, da editora DK.

Fiz questão de relatar o furto à polícia, na esperança de que alguém encontrasse a mochila jogada em algum lugar. Os ladrões se deram mal, porque não tinha absolutamente nada de valor nem de útil lá dentro pra eles, mas eu me dei pior ainda.

Dentro da mochila também estavam o cartão de acesso ao quarto do hotel, a chave do cofre da recepção e as chaves de todos os meus cadeados, que estavam trancando a minha mala e a outra mochila no hotel. O cartão de acesso não foi problema; paguei cerca de R$5 para que eles me dessem outro. Já a chave do cofre me deu um prejuízo de mais de R$50, pois eles tiveram que chamar um cara para destruir uma das gavetas do cofre, já que por segurança eles não mantêm cópias das chaves. Quanto às chaves dos meus cadeados, felizmente eu tinha esquecido um molho com uma cópia de cada uma em cima da cama do hotel. Observem a palavra "esquecido", de novo. Neste caso, porém, foi a minha sorte, se não teria tido que rasgar ou destruir a minha mala e a mochila para poder abri-las.

Fiquei triste durante uns dois dias tentando aceitar o fato e entender por que às vezes me distraio tanto. Uma das maneiras que encontrei para sublimar a perda foi listar todos os itens que estavam na mochila e todas as informações que eu lembrava do caderninho. A segunda maneira foi listar todas as coisas que eu já tinha perdido desde o começo da viagem, talvez na tentativa de evitar novas perdas:

- Estocolmo: xampu, hidratante, saboneteira, etc, esquecidos no chão do banheiro do albergue

- Mumbai: cartão do banco
Isto não entrou no blog na época, mas foi foda. Saquei dinheiro do caixa eletrônico e deixei o meu cartão na máquina. Só fui me dar conta quando cheguei em casa e, quando voltei, cerca de uma hora depois, não estava mais lá, claro. O segurança disse que o colega dele tinha colocado na caixa de coleta do banco, que deveria ter sido levada para uma determinada agência. No dia seguinte fui na tal agência com o office boy do Reyaz, mas disseram que ninguém tinha encontrado nada. Resultado: tive que cancelar o cartão, pedir para a minha agência do Brasil emitir outro e pedir para o meu pai mandar pra mim. Enquanto isso, fiquei usando um cartão de reserva que eu tinha, mas que não era da minha conta, e sim daquele tipo de carteira eletrônica (e-wallet), que você carrega com dinheiro no Brasil pra sacar no exterior. Lá foi meu pai de novo carregar esse cartão pra mim.
Detalhe: no meu primeiro dia em Mumbai, eu já tinha esquecido o cartão em outro caixa eletrônico, mas nessa primeira vez o cliente que estava esperando depois de mim saiu correndo pra me entregar o cartão. Claro que parte da culpa é das máquinas de lá, que entregam o cartão só depois do dinheiro e do recibo da transação, mas esquecer duas vezes do mesmo jeito não tem desculpa.

- Calcutá: trim (cortador de unha), provavelmente esquecido no hotel da YMCA.

- Mumbai: colírio recém-comprado; desapareceu misteriosamente e nunca mais foi encontrado.

- Malaca: boné, arrancado pelo vento e lançado numa sarjeta imunda.

- Cingapura: bermuda, esquecida no varal do albergue.

- Langkawi: tripé da câmera fotográfica e relógio de pulso, roubados de dentro da mochila, que estava no compartimento trancado que fica debaixo do banco da lambreta, enquanto eu estava numa cachoeira. A mochila em si saiu ilesa desse primeiro furto. Um fato curioso é que nessa mesma ocasião sumiram as pitombas (frutas) que também estavam dentro da mochila, mas não outras coisas de maior valor, como a própria mochila e o abrigo de chuva. Por um momento, pensei que eu pudesse ter sido vítima dos macacos, atraídos pelo cheiro das frutas, mas acho difícil, porque para pegar o tripé eles teriam que ter aberto outro zíper lateral.

- Xangai: esquecimento seguido de furto:
. mochila
. cachecol do Cássio
. caderninho antigo (cheio)
. caderninho novo (começando)
. guia de viagem Beijing & Shanghai
. caneta
. lenços de papel
. colírio
. porta-moedas (com moedas + chaves dos cadeados)
. estojo da câmera fotográfica
. estojo do Palm
. livrinho de pensamentos do Mao-Tse-Tung

Para me consolar, fiquei pensando também em todas as vezes em que eu NÃO esqueci alguma coisa, em que não perdi dinheiro, outros cartões, documentos, passagens, etc, em que não perdi vôos, trens, ônibus, em que evitei ser assaltado (por exemplo, quando identifiquei uma mão alheia querendo entrar no bolso da minha calça numa escada rolante do metrô de Xangai) e todas aquelas coisas que a gente não percebe quando dá certo, só quando dá errado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Carlão,

A vó começou assim, esquecendo chaves, cadernos, cartões, etc..

iglou disse...

Agradeça aos céus por não ter ido parar no hospital.