sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Xangai ( 上海 )

O nome da cidade em mandarim é constituído de dois caracteres, que são pronunciados como "shang hai" em pinyin. Portanto, esse "g" que aparece na grafia portuguesa é uma excrescência. Se fosse para aproximar pela pronúncia, o mais correto seria usar "Xanrai".

Xangai é a décima maior cidade do mundo e a maior da China. Enquanto Pequim é a capital política, Xangai é a capital econômica do país, além de importante centro cultural, comercial, financeiro e industrial. Desde 2005, possui o maior porto de carga do mundo e caminha para se tornar a principal cidade de toda a região Ásia-Pacífico.
(People's Square - Praça do Povo)
A foto acima condensa várias características de Xangai e das grandes cidades da China. Muitas pessoas nas ruas, prédios modernos e shopping centers. Estes últimos, em nome do consumo, aderem até à moda do Natal, totalmente estranho às tradições chinesas.

Museu de Planejamento Urbano
Grande Teatro

Nanjing Road, rua tradicional de comércio,
já desde antes da abertura econômica.
Vista de Pudong, do outro lado do rio Huangpu, com a
imponente torre de TV e rádio Pérola do Oriente
Vista do principal trecho da margem ocidental do rio Huangpu, conhecido como "The Bund", herança do domínio europeu na cidade durante quase cem anos.Huaihai Road (antiga Avenue Joffre), a moderna
artéria comercial da cidade, a Champs-Elysées do Oriente.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Qibao

Qibao significa "Sete Tesouros" e é uma cidade antiga também perto de Xangai. Por antiga quero dizer que foi fundada há milênios.

Como muitas coisas na China, é difícil distinguir o antigo do novo. A cidade foi totalmente reconstruída no ano 2000, mantendo o aspecto antigo, portanto a maior parte do que se vê é falso, ou seja, parece antigo, mas é réplica.

Aí eles aproveitam para criar parques e outras atrações para atrair turistas, neste caso, sobretudo os domésticos.


Um dos maiores fatores de atração, porém, é a comida tradicional. Na foto abaixo, um senhor prepara uma espécie de panqueca, usando técnica semelhante ao do crepe francês ou da dosa indiana.
Aqui eles estão fazendo uma das sobremesas que eu mais gosto, tangyuan, que são bolinhos feitos com farinha de arroz e recheados com massa de amendoim, gergelim ou feijão azuki. Depois esses bolinhos são cozidos por alguns minutos e servidos apenas com um pouco da água da fervura ou em uma espécie de sopa de arroz doce fermentado. No filminho abaixo, dá pra ver como eles colocam o recheio.
(13 segundos - 9,36 MB)
Tonel de vinho de arroz
Dentre as iguarias da foto abaixo, dá pra identificar nariz e orelha de porco (ao centro) e caramujos (canto superior direito). As trouxas que aparecem no canto inferior direito são uma espécie de bolo de carne moída de porco, envolto em folhas de lótus.
Aqui dá pra ver cabeças de pato e codornas assadas.
A visão de todos esses quitutes abriu o nosso apetite, então fomos jantar. Já não lembro mais tudo o que pedimos, mas os pratos da foto abaixo mostram o seguinte: à esquerda, uma espécie de massa de tofu frita, com ervilha, milho, cogumelo e camarão, tudo cozido em um molho gosmento; à direita, um rolinho feito à base de raiz de lótus e arroz, cortado em fatias, com um molho adocicado.
A Selena não é linda?

Sábado no parque

Perto de Xangai, ao lado do restaurante onde deixei a mochila, tinha um parque com jardins em estilo tradicional chinês, que leva em conta os princípios do feng shui.

A temperatura em Xangai já estava bem mais alta do que em Pequim, por volta de 10°C.
Angela (IBM), Selena e Lionel

Três tipos de chá e uma espécie de mingau de raiz de lótus
O chá verde (à esquerda) é considerado tanto melhor quanto mais folhas boiarem no copo. O que tomamos era de alta qualidade.

Perdas e danos

No meu primeiro dia em Xangai, fui a um restaurante com a minha amiga Angela, o marido dela Lionel e a filha deles Selena. É um restaurante especializado em um tipo de "dumpling" ("ravioli" chinês) chamado shaolong.

No local indicado pela seta (foto abaixo) havia uma mochila, a minha, que foi esquecida quando saímos do restaurante.
A minha amiga percebeu que eu estava sem a mochila uns cinco minutos depois de sairmos do restaurante, quando estávamos entrando em um parque que fica ao lado. Voltamos correndo, mas a mochila já tinha desaparecido, assim como a família de estranhos que estava dividindo a mesa conosco (não os mesmos que estavam no momento da foto).

Fiquei muito irritado com (mais) esse meu esquecimento. Nesse dia específico, não tinha nada de muito valor dentro da mochila, mas se tivesse sido qualquer outro dia, eu poderia ter ficado sem a carteira, câmera fotográfica, celular, cartões de crédito, abrigo de chuva, luva e gorro de frio do Caio, além de muitos outros itens que costumavam freqüentar aquele espaço. Nesse dia, felizmente, o objeto de maior valor material era a própria mochila; o segundo, provavelmente, o cachecol que o Cássio tinha me emprestado. O item mais importante, porém, foi o meu caderninho, onde eu tinha feito todas as minhas anotações desde o começo da viagem, com informações, observações, idéias, além de contatos de pessoas, etc. O primeiro caderninho já estava completo e o segundo tinha acabado de ser inaugurado. Com isso se perderam para sempre muitas das coisas que eu tinha anotado para escrever depois no blog. O segundo item mais importante era o guia turístico de Pequim & Xangai, um guia visual da coleção Eyewitness, da editora DK.

Fiz questão de relatar o furto à polícia, na esperança de que alguém encontrasse a mochila jogada em algum lugar. Os ladrões se deram mal, porque não tinha absolutamente nada de valor nem de útil lá dentro pra eles, mas eu me dei pior ainda.

Dentro da mochila também estavam o cartão de acesso ao quarto do hotel, a chave do cofre da recepção e as chaves de todos os meus cadeados, que estavam trancando a minha mala e a outra mochila no hotel. O cartão de acesso não foi problema; paguei cerca de R$5 para que eles me dessem outro. Já a chave do cofre me deu um prejuízo de mais de R$50, pois eles tiveram que chamar um cara para destruir uma das gavetas do cofre, já que por segurança eles não mantêm cópias das chaves. Quanto às chaves dos meus cadeados, felizmente eu tinha esquecido um molho com uma cópia de cada uma em cima da cama do hotel. Observem a palavra "esquecido", de novo. Neste caso, porém, foi a minha sorte, se não teria tido que rasgar ou destruir a minha mala e a mochila para poder abri-las.

Fiquei triste durante uns dois dias tentando aceitar o fato e entender por que às vezes me distraio tanto. Uma das maneiras que encontrei para sublimar a perda foi listar todos os itens que estavam na mochila e todas as informações que eu lembrava do caderninho. A segunda maneira foi listar todas as coisas que eu já tinha perdido desde o começo da viagem, talvez na tentativa de evitar novas perdas:

- Estocolmo: xampu, hidratante, saboneteira, etc, esquecidos no chão do banheiro do albergue

- Mumbai: cartão do banco
Isto não entrou no blog na época, mas foi foda. Saquei dinheiro do caixa eletrônico e deixei o meu cartão na máquina. Só fui me dar conta quando cheguei em casa e, quando voltei, cerca de uma hora depois, não estava mais lá, claro. O segurança disse que o colega dele tinha colocado na caixa de coleta do banco, que deveria ter sido levada para uma determinada agência. No dia seguinte fui na tal agência com o office boy do Reyaz, mas disseram que ninguém tinha encontrado nada. Resultado: tive que cancelar o cartão, pedir para a minha agência do Brasil emitir outro e pedir para o meu pai mandar pra mim. Enquanto isso, fiquei usando um cartão de reserva que eu tinha, mas que não era da minha conta, e sim daquele tipo de carteira eletrônica (e-wallet), que você carrega com dinheiro no Brasil pra sacar no exterior. Lá foi meu pai de novo carregar esse cartão pra mim.
Detalhe: no meu primeiro dia em Mumbai, eu já tinha esquecido o cartão em outro caixa eletrônico, mas nessa primeira vez o cliente que estava esperando depois de mim saiu correndo pra me entregar o cartão. Claro que parte da culpa é das máquinas de lá, que entregam o cartão só depois do dinheiro e do recibo da transação, mas esquecer duas vezes do mesmo jeito não tem desculpa.

- Calcutá: trim (cortador de unha), provavelmente esquecido no hotel da YMCA.

- Mumbai: colírio recém-comprado; desapareceu misteriosamente e nunca mais foi encontrado.

- Malaca: boné, arrancado pelo vento e lançado numa sarjeta imunda.

- Cingapura: bermuda, esquecida no varal do albergue.

- Langkawi: tripé da câmera fotográfica e relógio de pulso, roubados de dentro da mochila, que estava no compartimento trancado que fica debaixo do banco da lambreta, enquanto eu estava numa cachoeira. A mochila em si saiu ilesa desse primeiro furto. Um fato curioso é que nessa mesma ocasião sumiram as pitombas (frutas) que também estavam dentro da mochila, mas não outras coisas de maior valor, como a própria mochila e o abrigo de chuva. Por um momento, pensei que eu pudesse ter sido vítima dos macacos, atraídos pelo cheiro das frutas, mas acho difícil, porque para pegar o tripé eles teriam que ter aberto outro zíper lateral.

- Xangai: esquecimento seguido de furto:
. mochila
. cachecol do Cássio
. caderninho antigo (cheio)
. caderninho novo (começando)
. guia de viagem Beijing & Shanghai
. caneta
. lenços de papel
. colírio
. porta-moedas (com moedas + chaves dos cadeados)
. estojo da câmera fotográfica
. estojo do Palm
. livrinho de pensamentos do Mao-Tse-Tung

Para me consolar, fiquei pensando também em todas as vezes em que eu NÃO esqueci alguma coisa, em que não perdi dinheiro, outros cartões, documentos, passagens, etc, em que não perdi vôos, trens, ônibus, em que evitei ser assaltado (por exemplo, quando identifiquei uma mão alheia querendo entrar no bolso da minha calça numa escada rolante do metrô de Xangai) e todas aquelas coisas que a gente não percebe quando dá certo, só quando dá errado.

Viagem a Xangai

Dia 7 de dezembro à noite peguei um trem de Pequim para Xangai. Este é o interior da cabine, com dois beliches bem confortáveis.
O nariz de uma locomotiva que estava parada na estação de Xangai (não a do meu trem).

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Tumbas Ming

A segunda parte do passeio foi para conhecer as tumbas da dinastia Ming (1368-1644), que foram incluídas na lista do patrimônio histórico da UNESCO em 2003. O sítio arqueológico contém as tumbas de 13 imperadores, mas apenas a do imperador Zhu Yijun, chamada de Ding Ling, já foi completamente escavada. Outras duas foram escavadas parcialmente, notadamente Chang Ling, que é a maior delas e possui palácios abertos à visitação. As demais estão soterradas até hoje, aguardando decisões governamentais.

As escavações da Ding Ling ocorreram em 1956 e, na década seguinte, ela foi totalmente destruída, na esteira da Revolução Cultural. Todos os objetos que podem ser vistos lá dentro hoje são réplicas dos originais, queimados ou destruídos nos anos de fúria anti-histórica.

Portal de entrada do Caminho Sagrado,
ou Via dos Espíritos, que dá acesso às tumbas.
Estátuas ao longo do Caminho dos Espíritos.
Eu, já devidamente agasalhado, e a guia Jasmin
Interior da tumba Ding Ling, com as réplicas dos sarcófagos do imperador e suas duas imperatrizes, assim como caixas de jóias.
Corredor de acesso a uma das alas laterais.

A Grande Muralha

A Grande Muralha da China tem cerca de 6.500 km e levou séculos para ser construída. Trata-se da maior estrutura construída pelo homem em termos de comprimento, área e massa. Diferente da crença geral, porém, não pode ser vista da Lua.

Sua construção começou no séc. V a.C. e perdurou até o séc. XVI, na dinastia Ming, sempre com a finalidade de defender a fronteira setentrional do império chinês. Apesar da quantidade estúpida de recursos materiais e humanos empregados na sua construção, não impediu importantes invasões vindas do norte, notadamente dos poderosos mongóis. Milhões de operários trabalharam nas obras e calcula-se entre 2 e 3 milhões o número dos que morreram na execução da tarefa. Diz a lenda que muitos dos corpos foram aproveitados na própria estrutura do muro.

Atualmente, a maior parte da Muralha encontra-se em ruínas. Muitas seções foram recuperadas ao longo das últimas décadas, sobretudo com fins turísticos.

A partir de Pequim é possível visitar algumas delas. Eu queria ver uma seção que não fosse muito turística. A seção mais badalada chama-se Badaling (fácil de lembrar). Outra bastante famosa é Simatai, que fica um pouco mais longe e proporciona caminhadas de até quatro horas ao longo de trechos não totalmente restaurados.

A Lígia me indicou o Chinese Culture Club, que é um centro cultural voltado para estrangeiros, com cursos e tours por Pequim e região. Eles tinham um passeio para a seção da Muralha de Mutianyu e para as tumbas Ming. Resolvi arriscar e me tornei um grande fã desse centro. Eles cobram um pouco mais caro do que outros passeios para a Muralha, mas o que oferecem é muitas vezes melhor.

Quando eu me atrasei de manhã por causa daquele motorista de motocaixa fdp, eles não iam me esperar, em respeito aos outros clientes, que tinham chegado na hora. Achei super correto, porém consegui que me esperassem oito minutos. Quando entrei no microônibus eu não sabia onde enfiar a cara, todo mundo sentado esperando o brasileiro atrasado, mas fui logo agradecendo todo mundo e pedindo desculpas e o pessoal me acolheu numa boa.

Ao longo do trajeto, a nossa guia Jasmin foi super profissional, falava inglês muito bem, explicava coisas interessantes, respondia todas as perguntas e era simpática.
Uma vez chegando na área de acesso à Muralha, tínhamos duas horas e várias opções para subir e para descer. Eu resolvi subir a pé e me desgarrar do grupo na metade do caminho, para poder ver mais coisas. Andei para a esquerda quase até o final, onde chega um dos teleféricos. Depois andei ao longo de toda a muralha para o outro lado, passando pelo segundo teleférico e indo até o final.

Agora, com vocês, as paisagens deslumbrantes:
Não se enganem com o sol e com a minha (pouca) roupa. A temperatura estava por volta dos 5°C e o vento, de rachar. Eu só estava sentindo calor por causa do esforço físico. Por questões estratégicas, a muralha acompanha a parte mais alta das montanhas, então dá pra imaginar a quantidade e a inclinação das subidas e descidas...
Aqui eu ainda estava com o cachecol do Cássio, em uma de suas últimas aparições públicas...


O que mais me alegrava era poder estar completamente sozinho, ouvindo apenas o barulho do vento. Essas fotos que vocês estão vendo são raras. Normalmente as fotos dos turistas têm vários outros turistas no fundo. Como eu me desgarrei até do meu grupo e não tinha muitos outros grupos por lá naquele dia, consegui ter uma experiência bastante única.
Aqui o cachecol e o casaco já tinham sumido...



Uma placa indicando o final da parte restaurada da muralha.

Claro que eu precisava continuar mais um pouco, né...

Na descida resolvi me divertir um pouco e peguei uma espécie de bobsleigh.
Por fim, o almoço, incluído no pacote do passeio. Excelente comida chinesa!

Pequim - Fotos esparsas

Apelidei esse veículo aí embaixo de "motocaixa". É uma moto com uma caixa em cima, que funciona como táxi. Depois de eu as ter usado duas vezes, me disseram que são ilegais. Não estou completamente convencido disso, porque se fossem ilegais mesmo, seria muito fácil apreendê-las nas ruas. Reparei que todas elas têm um adesivo de deficiente físico, então imagino que haja alguma sutileza por trás de tudo. O fato é que a segunda e última que peguei me causou o maior transtorno. Primeiro porque o cara não respeitava nada nem ninguém, inclusive invadindo as ciclofaixas e buzinando para os ciclistas, o que me fazia me sentir culpado por estar patrocinando aquilo. Segundo, porque o infeliz resolveu parar no meio do caminho e dizer que não poderia me levar a partir daquele ponto. Isso me fez ter que procurar um táxi no meio de uma avenida totalmente congestionada, no horário do rush da manhã, e quase perder a minha excursão para a Grande Muralha.
Orelhões. Segundo o Kao me informou, certa vez um dirigente chinês foi ao Brasil e ficou encantado com a criatividade e o baixo custo dos nossos orelhões, trazendo a idéia para a China. Não sei se a história procede, mas o fato é que os orelhões chineses são iguais aos nossos (ou vice-versa) e um chinês pronunciou a expressão "big ear" quando comentei sobre eles.
Teatro Nacional, em fase final de construção. Tem formato de meio ovo, que ao refletir na água acaba formando um ovo completo. Além disso, as cores do vidro produzem uma analogia com o símbolo de ying-yang.