quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Puna - 2.º dia

Papel higiênico
Quando acordei, precisava do papel higiênico e fui pedir na recepção. Eles disseram que não tinham. Como assim?! "No toilet paper here". Pensei comigo: não, agora vocês se superaram! Como é que vocês limpam a bunda, porra?! Diante da minha cara de ponto de interrogação, o cara me apontou o lado de fora do hotel e disse "second left" (quer dizer, disse outras coisas, mas só entendi essa parte). Tentei entrar numa segunda porta à esquerda, mas logo apareceu um vigia dizendo que ali era particular e perguntando o que eu queria. Tentei explicar que o cara do hotel tinha me dito que ali tinha papel higiênico, ele gritou alguma coisa com o cara do hotel em híndi ou marati e depois me explicou que era pra ir numa loja ao lado. Ah, agora entendi. Só que eu tinha deixado a minha carteira no quarto. Putz, resolvi voltar, pegar as minhas coisas e ir usar o banheiro da Sylvie de novo...

Passagem de volta
Depois de me fartar no bufê de café da manhã de 400 rupias do Méridien, saímos de novo. A idéia era ir num museu, mas antes eu precisava comprar a minha passagem de volta. Como não tinha mais trem nem pra dali a três dias, só me restava a opção ônibus. Interessante como as informações mudam rápido por aqui. Entre indas e vindas à estação de trem e às bancas que vendem as passagens de ônibus, o preço baixou de 250 para 220 rupias e o horário mudou de 17h30 para 17h15.

Desenvolvimento econômico
Nos últimos dez anos, somente no setor de informática, Puna viu suas exportações crescerem mais de cem vezes, passando de 25 milhões em 1996 para 3,6 bilhões em 2006. Os jornais locais falam sobre a possibilidade de um colapso da infra-estrutura. Como no Brasil, fica a dúvida sobre onde está sendo investido o dinheiro de todo esse crescimento.
Raja Dinkar Kelkar Museum
Esse museu foi formado a partir da coleção particular de um rajá, que doou ao estado em 1990 as 17.000 peças coletadas ao longo da sua vida. É o melhor museu de Puna e contém peças de civilizações indianas antigas e modernas. As peças estão em um estado precário de apresentação e conservação, mas há várias coisas interessantes. A sala mais bonita é a da foto abaixo, que foi literalmente trazida de um palácio nos arredores da cidade para dentro do museu.O prédio em si também é muito bonito, apesar do mau estado de conservação.
Despedida
A Sylvie tinha combinado de fazer um passeio com os outros testadores às 14h, então acabou ficando pouco tempo no museu. Saí pra esperar o rickshaw que a levaria de volta ao hotel e me despedir, depois voltei ao museu e terminei de ver o que tinha faltado. Como acontecia na época em que eu viajava bastante a trabalho, é sempre legal encontrar as pessoas com quem temos afinidade, mas as despedidas são tristes, porque nunca sabemos se vamos nos encontrar de novo. Acabamos esquecendo de tirar uma foto juntos e esta é a única em que ela aparece desta vez, apreensiva dentro do rickshaw.Como ela dizia, parecia que a qualquer momento uma moto ia entrar pela janela...

Resort de meditação Osho
A primeira vez que ouvi falar de Osho foi em Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, onde construíram um templo em forma de gota em homenagem a ele. O Osho morreu em 1990, mas deixou uma legião de seguidores pelo mundo. Ele foi um guru moderno, que aliou religiosidade indiana e psicanálise. Viveu nos Estados Unidos durante cinco anos na década de 1980, antes de ser expulso por imigração irregular em 1985. Depois, estabeleceu sua sede em Puna, no local que eu fui visitar.Lá eu assisti a um vídeo de uns 25 minutos e depois fiz um "tour silencioso" de uns 10 minutos. Dá pra ver muito mais no vídeo, mas o legal do tour é poder ver de perto as pessoas vestidas em suas túnicas de cor vinho. Pra fazer parte da comunidade ou passar um tempo entre eles, a primeira coisa que é preciso fazer (depois de pagar, claro) é um teste de AIDS. Na metodologia do Osho, o sexo é uma das formas de alcançar a iluminação, então nunca se sabe o que pode acontecer lá dentro. Para quem tiver interesse: http://www.osho.com/Main.cfm?Area=MedResort&Language=Portuguese

Koregaon Park
Esse é o nome oficial do bairro onde fica localizada a comunidade do Osho. Mas na minha cabeça vai ser lembrado como "bairro do Osho". Assim que desci do rickshaw, fiquei impressionado com a mudança.Uma rua arborizada, limpa, com calçadas, poucas pessoas. Uma rua "normal", enfim! Depois descobri que as duas ruas paralelas também eram assim. Numa delas, há um parque grande, chamado Osho Teerth, bem arrumado. Antes deles, era um terreno baldio. Além disso, há várias mansões particulares bem cuidadas.
Ônibus
Peguei um rickshaw e fui ao meu hotel buscar a outra mochila. Depois andei até o lugar de pegar o ônibus e acabei chegando uns 30 minutos antes do horário previsto. Foi a minha sorte, porque o ônibus saiu 17 minutos antes do horário. O ônibus tinha ar condicionado, mas não havia espaço suficiente para as minhas pernas. O cara que sentou do meu lado começou a assistir um vídeo no celular dele num volume imbecil. Olhei com cara de poucos amigos e depois de alguns minutos acabou o filminho e acho que ele cansou. Aí começaram os barulhos "oficiais" do ônibus. Primeiro, música ambiente, depois o som de um filme indiano que colocaram no vídeo. Juntando-se a tudo isso os celulares que não paravam de tocar, foi difícil dormir. O ônibus demorou 1,5 hora só pra sair de Puna, por causa do trânsito e porque ia parando muito pra pegar passageiros. Em uma das paradas, chegou a esperar dez minutos uma passageira que estava atrasada. Depois que pegou finalmente a estrada, que por aqui é motivo de orgulho por ser uma rodovia com três faixas de cada lado, continuava tendo gente no acostamento, carroças, etc, e o tráfego não fluía muito bem. No meio do caminho, muitas curvas e um deslizamento de barreiras. Não consegui ver muito mais, porque o insulfilm da janela era muito escuro. Quando parecia que a coisa ia deslanchar, parada para mijar. Quando chegamos em Mumbai, mais trânsito e paradas. Finalmente, às 21h30 chegamos na Dadar Station, ponto final.

Táxi
Ao descer do ônibus já tinha vários taxistas oferecendo seus serviços. Disse para onde eu queria ir e eles ficaram fazendo perguntas, até chegarem à conclusão de que sabiam onde era e como chegar. Na última hora, entrou um amigo do taxista no banco da frente. Eu não deveria ter deixado, mas vacilei de novo. Eles não sabiam direito o caminho e, depois de uma meia hora, começaram a perguntar a outros motoristas. Quando chegamos, o cara me mostrou o taxímetro e a tabela de conversão, que dava 314 rupias, quando o esperado era umas 130. Não sei se o cara não zerou o taxímetro direito ou se foi por causa das voltas que ele deu, mas estava muito caro. De qualquer maneira, eu não tinha o que dizer. Aí fui pagar com uma nota de 500 e o cara me devolveu dizendo que era de 100. Fiquei na dúvida de novo se eu tinha me confundido ou se o cara tinha trocado a nota. Resultado: em vez dos 640 que eu achava que tinha na carteira, agora só tinha 240. Eu disse pro cara esperar que eu ia pegar a diferença em casa, mas ele não queria. Perguntou se eu não tinha dólares. Eu disse que não e sugeri que o amigo dele fosse comigo enquanto ele ficava ali esperando. Ele fez sinal de que eu estava querendo enrolá-lo. Aí apontou e pediu o meu relógio! Nessa hora eu pensei: agora passou dos limites. Abri a porta, saí do carro e liguei um foda-se bem grande pros dois.

6 comentários:

Anônimo disse...

Nossa!, Carlos,
a coisa tá esquentando! Esse blog vai virar um livro.
Estou achando muito interessante ler sobre as suas aventuras.
Beijos,
Mirian

Anônimo disse...

Depois de seu relato sobre Puna, das suas viagens de ida e volta, bem como da "honestidade" dos indianos,isto para mim é novidade, pois sempre ouvi falar que eles eram miseráveis mas muito submissos, só posso lhe transmitir o que disse Churchil em um dos seus mais famosos discursos, ou seja: " Nunca desista, nunca, nunca, nunca".
Acho que você deveria rever o seu roteiro de viagem e, abreviar o máximo possível a sua estada nesse maravilhoso país.

iglou disse...

Rapaz, cuidado pra não ficar pobre na Índia! Não parece ser uma boa. Força na peruca!

Anônimo disse...

Carlão,

Esse seu relato está ficando muito engraçado, para não dizer trágico.

Essa experiência na Índia está sendo um verdadeiro "tourist trap". No mínimo, uma boa narrativa já rendeu.
Você já começou a pensar em encurtar a viagem?
Abraço
Cássio

Cristiane disse...

Carlos! Estou adorando seus relatos de viagem!!. Puxa vida, voce deve ter tido um choque mesmo, saindo daqui da escandinavia e indo parar na India...mas como voce mesmo disse, sao estes contrastes da India que fascinam, mas para engrossar o coro: vc nao esta pensando em encurtar a viagem por aí? rsrs. Brincadeira, aproveite pois tudo na vida e experiencia, até as mais estranhas!

Anônimo disse...

Carlão, quando faltar papel higiênico é só chamar o ALFREEEEDO!
Ele trará o Neve em uma bandeja para você rapidinho!
Saudades!
Cunhada.