quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Puna - 1.º dia

No fim de semana passado, fiz uma viagem a Puna, uma cidade de cerca de 3 milhões de habitantes, centro industrial e universitário. Em inglês, o nome da cidade se escreve "Pune" ou "Poona".

Salafrários
Saí de casa no sábado às 6h15, já que o meu trem partia às 7h10. Peguei um táxi que acabou me cobrando 400 rupias, quando o preço normal não seria mais do que 90. Depois que cheguei na estação, veio um carregador querer me ajudar a encontrar o meu vagão, assento, etc. Deixei claro que eu não queria que ele carregasse nada (eu só tinha duas mochilas pequenas) e que as informações que ele estava tentando me passar eram desnecessárias. Ele fez questão de me levar até o meu assento e, depois de se certificar de que estava tudo certo, me cobrou 50 rupias, em tom ligeiramente ameaçador. Depois de protestar em vão, acabei pagando. Depois que sentei no trem e comecei a pensar, fiquei com muita raiva dos caras, da Índia e de mim mesmo. Afinal, eu tinha pago 240 rupias pela passagem de trem e, só pra chegar no trem, já tinha gasto 450! Decidi que eu não deixaria mais isso acontecer.

Trem
O tipo de vagão que escolhi para fazer a reserva é o que eles chamam de "AC Chair", ou seja, poltrona em cabine com ar condicionado. O meu vagão era simples, mas relativamente limpo. Depois de alguns minutos, percebi que algumas pessoas estavam inquietas no vagão. É que alguém descobriu que, do lado de fora, o pessoal da estação tinha mudado o número do nosso vagão. Ou seja, o vagão que eu estava tinha deixado de ser C1 e passado a ser C2. Fomos todos para o outro vagão. O novo vagão C1 era parecido com o anterior, só que agora as cadeiras estavam viradas para o outro lado e eu teria que viajar de costas. O trem partiu um minuto antes do horário previsto e a viagem durou um pouco mais de 4 horas, como previsto. Detalhe: a distância de trem entre Mumbai e Puna é de 192 km.

A chegada
Ao chegar em Puna, a minha primeira "missão" era encontrar o hotel Le Méridien, onde estava hospedada a Sylvie Baillot, outra colega dos tempos de IBM, francesa. O hotel ficava atrás da estação e deu pra ver do próprio trem.O difícil foi conseguir chegar até lá. Havia uma passarela sobre os trilhos que tinha acabado de ser bloqueada por um pessoal que estava fazendo manutenção no telhado. Como todas as obras aqui, eles simplesmente bloqueiam e os passantes que se lixem. Tive que atravessar pelos trilhos! Depois, atravessar a avenida e caminhar pela lateral sem calçada...

O encontro
Depois de alguns minutos, a Sylvie apareceu no lobby do hotel. Eu disse pra ela que precisava de um tempo pra me refazer das experiências daquele dia. A sensação dela sobre a Índia era parecida com a minha, com a diferença que ela tinha passado a noite anterior acordada com dor de barriga e pesadelos. Durante a semana toda, ela só tinha ido do hotel para o trabalho (uma hora e quinze de trânsito) e vice-versa. Dormir e trabalhar. Não por culpa dela, que queria sair, mas porque os outros testadores tinham medo e o pessoal do laboratório desaconselhou fortemente qualquer incursão pela rua à noite.

Hotel - a busca
Depois que nós dois nos sentimos mais confiantes para enfrentar os desafios do mundo exterior, deixei a minha mochila maior no quarto dela e saímos. A próxima missão era encontrar um hotel para mim. Eu tinha selecionado algumas opções no Lonely Planet e numa lista que eu tinha conseguido no escritório de turismo de Mumbai. Demoramos muito para encontrar o primeiro, devido à dificuldade em atravessar as ruas e nos locomover em meio à turba. Chegamos no hotel que eu tinha escolhido em primeiro lugar, não muito longe da estação, mas os preços eram mais do que o dobro do que estava no guia. Ao sair do hotel, um motorista de rickshaw ofereceu para mostrar outro hotel. No meio de toda aquela confusão, achamos que seria melhor aceitar. Ele deixou claro que cobraria 10 rupias pelo serviço e nos levou direitinho num hotel não muito longe dali, ainda mais perto do hotel da Sylvie. Olhei o quarto e decidi ficar, porque queria sair logo para fazer outras coisas mais interessantes.

Hotel - check-in
O preço era 900 rupias. Com impostos, 936. Pedi para ficar no mesmo quarto que eu tinha visto, número 104. Dei duas notas de 500 e o cara não queria me dar o troco. Disse: amanhã quando você sair, você pega, porque blá blá blá. Já vacinado pelas experiências anteriores, resolvi engrossar: ou vocês me dão o troco agora, ou cancelamos tudo e vou embora. Funcionou. Depois, queriam ficar com o meu passaporte pra tirar xerox. Eu sabia que o passaporte aqui é uma exigência nos hotéis e acreditei na história dele de que precisam enviar uma cópia para a polícia, etc. Eu disse que entendia perfeitamente, mas não poderia sair de lá sem o meu passaporte de maneira nenhuma. Ele disse que eu esperasse e providenciou que alguém fosse tirar a cópia em cinco minutos. Ao sair do hotel, anotei o número do quarto no recibo.

A cidade
Caminhamos em direção à principal "artéria comercial" da cidade, chamada Mahatma Ghandi Road ou, simplesmente, M. G. Road. Lá havia várias lojas, basicamente. Depois de algum tempo, conseguimos encontrar um restaurante aparentemente confiável. Almoçamos boa comida por um preço módico.
Em seguida fomos a um memorial do Ghandi. Não entramos porque faltava só quinze minutos para fechar, mas o palácio onde ele fica e o jardim em volta eram muito bonitos e agradáveis, e permitiram que a gente sossegasse um pouco a cabeça da agitação da rua.Poluição
A imensa quantidade de veículos motorizados nas ruas causa uma poluição sonora e atmosférica incrível. Além do cheiro da fumaça, depois de algum tempo comecei a sentir a minha garganta arranhando. No segundo dia, parecia que tinha uma pedra na glote. Até hoje o meu pulmão ainda não voltou ao normal.

A noite
Finalmente, voltamos ao Méridien, porque a Sylvie estava querendo ir no banheiro fazia tempo e não conseguimos encontrar nenhum utilizável. No restaurante não tinha banheiro e no memorial tinha um que, segundo ela, não dava para usar porque estava sem luz. A idéia era só dar uma descansada lá e procurar outro lugar pra jantar, na verdade um restaurante que estava indicado no guia. Mas uma vez na segurança do hotel, não tivemos coragem de sair de novo e preferimos comer por lá mesmo.Depois, como no meu hotel só teria água quente das 6h às 8h da manhã e eu gosto de tomar banho antes de dormir, acabei usando o chuveiro da Sylvie antes de ir embora.

Hotel - o retorno
Já que o meu hotel era perto do Méridien, resolvi ir a pé. Só que eu não conseguia encontrá-lo de maneira nenhuma. As ruas estavam completamente escuras e eu não conseguia mais reconhecer os pontos que tinha observado durante o dia. As calçadas repletas de gente dormindo. Fui e voltei várias vezes, e comecei a entrar em pânico. Fiquei imaginando a impressão que aquele estrangeiro, carregando duas mochilas e andando pra lá e pra cá, estaria causando nas pessoas do lugar. Eu tinha o endereço do hotel, mas as ruas aqui raramente têm placas com o nome. Começaram a aparecer pessoas oferecendo ajuda, principalmente motoristas de rickshaw, mas também mendigos e outros. Finalmente resolvi aceitar a ajuda de um cara com jeito de honesto e que se dizia amigo do dono do hotel. Realmente, ele me levou direitinho para lá. Pensei: ufa, agora é só pegar a chave do quarto e tentar dormir. Disse o número do quarto e o cara disse que o número tinha mudado. Como mudado? Eu disse que não aceitava, mostrei o meu nome no livro do hotel, ele tentou explicar alguma coisa, eu não estava para muita conversa. Aparentemente ele queria dar o meu quarto para outro hóspede que tinha acabado de chegar. Consegui a minha chave e subi com cara de poucos amigos.

Hotel - o quarto
Ao chegar no quarto, tudo estava em ordem, exceto pela falta de papel higiênico. Fiquei pensando se a vontade estava grande ou se poderia deixar para a manhã seguinte. Resolvi deixar.A cama só tinha o lençol de baixo, não o de se cobrir. Além disso tinha duas mantas leves, mas que certamente já tinham sido usadas por outros hóspedes antes. Eu não queria encostar aquilo na pele diretamente. Peguei no sono sem me cobrir mesmo, mas no meio da noite os mosquitos começaram a atacar e precisei ligar o ventilador do teto. Aí resolvi tirar o lençol que estava cobrindo a outra cama. Tudo bem, voltei a dormir. Às cinco da manhã, toca uma campainha estridente. Levanto de um pulo e, ao abrir a porta, um indiano do lado de fora diz: "Ah, sorry". Pata que pariu...

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