segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Pequim
Orientação, planejamento urbano e os hutongs

O Museu de Planejamento Urbano de Pequim traz muitas informações interessantes sobre a cidade. Desde a sua refundação por conquistadores mongóis no séc. XIII, o traçado principal da cidade é retangular, com o palácio imperial (posteriormente expandido até se transformar na "Cidade Proibida") ao centro, de onde irradiam eixos norte-sul e leste-oeste. Isso faz com que, até hoje, apesar das grandes distâncias e do comprimento das quadras, seja muito fácil se orientar na cidade. Todas as avenidas correm ou no sentido norte-sul ou no sentido leste-oeste. Além disso, há cinco anéis, cada um formado por duas avenidas norte-sul e duas avenidas leste-oeste interligadas, concêntricos em relação à Cidade Proibida.

O texto abaixo foi retirado de um dos painéis informativos do museu, sobre o desenvolvimento mais recente da cidade:

Em 1982, o Conselho de Estado anunciou as 24 primeiras cidades de renome histórico e cultural; Pequim estava no topo dessa lista.

O Plano Diretor Municipal de Pequim de 1982 reforçava a proteção da cidade antiga, dava atenção ao entorno dos sítios históricos, preconizava a coordenação entre a preservação de edifícios históricos e a proteção de áreas verdes e mananciais, recomendava uma evacuação maciça da população do centro da cidade e encorajava a coordenação da renovação da cidade antiga e o desenvolvimento de áreas de subúrbio.

Nesse período, foram anunciados 209 sítios oficialmente protegidos em duas fases. O governo municipal demarcou as zonas de proteção e zonas-tampão para 202 sítios.

Em 1985, foram promulgadas as primeiras regras sobre alturas de construção nas áreas urbanas para evitar danos à paisagem da antiga cidade-capital, restringindo o desenvolvimento impensado de arranha-céus.

Em 1987, o plano de zoneamento ajustou os limites das alturas de construção na cidade antiga e nas áreas centrais de Pequim, impôs limites sobre a taxa de ocupação do solo e providenciou a proteção de corredores paisagísticos e áreas tradicionais.

Em 1990, o governo municipal anunciou 25 zonas de proteção histórico-cultural.

Abaixo está uma parte da maquete gigantesca de Pequim, que ocupa um andar inteiro do museu. A foto foi tirada com o norte à frente. Em primeiro plano, na parte inferior central, vemos a Cidade Proibida. À sua esquerda, os lagos.
A foto abaixo foi tirada do leste para o oeste. Ao fundo, o retângulo de cor mais alaranjada é a Cidade Proibida. Em primeiro plano, vemos o CBD (Central Business District), com seus prédios modernos. À esquerda, o principal eixo leste-oeste da cidade. Mais à esquerda, uma linha de trem e um rio. Mais à esquerda ainda, já saindo da foto, ficam os prédios onde eu morei durante a primeira semana. A avenida que corta o CBD ao meio no sentido norte-sul é o trecho leste do 3.º anel.
Outra maquete, apenas com os prédios do CBD.
Em geral, as avenidas de Pequim são compridas, largas e arborizadas, com calçadas bem cuidadas. As ruas mais estreitas e antigas são chamadas genericamente de hutong. Estes podem ter desde 10 m até apenas algumas dezenas de cm de largura.



Os hutongs são a cara da Pequim antiga. Nessas áreas, as casas não têm calefação pública, por isso os moradores precisam recorrer a estes cilindros de carvão compactado que aparecem na foto abaixo:
Muitas também não têm banheiro, por isso há vários banheiros públicos (à direita da foto).
Apesar de não proporcionarem muito conforto para os moradores nos padrões de hoje, esses bairros tradicionais têm muito mais caráter do que os grandes bairros modernos e suas avenidas.

Em geral, os hutongs foram formados a partir da justaposição de diversas casas grandes dotadas de pátios internos. Com o tempo, essas casas foram sendo divididas entre várias famílias, que passaram a compartilhar a porta de entrada e transformaram o pátio em área comum. Atualmente fica difícil identificar os limites entre uma casa e outra, assim como o layout original de cada casa.

A foto abaixo mostra uma das portas que serve de acesso a um pátio interno, onde estão as portas das casas atuais. Uma dessas áreas internas poderá ser vista com maior detalhe (e emoção) no vídeo que aparece mais abaixo.

Voltando ao início deste relato, sobre o planejamento da cidade, os hutongs podem ser divididos entre aqueles (poucos) que estão legalmente protegidos por leis de preservação histórica, aqueles que já desapareceram completamente para dar lugar a bairros modernos, aqueles que estão desaparecendo e aqueles que desaparecerão dentro de pouco tempo...

Eu estava procurando um pequeno museu que ficava em um hutong quando percebi que o endereço não existia mais. A foto abaixo mostra o local em questão e ilustra como se dá o processo de alteração desses bairros (a foto está ruim, porque já era quase noite). Faz-se um plano de traçar uma nova rua ou avenida, derrubam-se as casas necessárias para abrir a rua, constrói-se a rua nos padrões modernos, com calçadas, canteiros para árvores, etc, e constrói-se um muro ao longo das calçadas, criando uma nova fachada para conter o que restou. Dizem que as indenizações pagas pelo governo são relativamente generosas e os moradores desalojados acabam se mudando para apartamentos mais confortáveis, porém longe do centro, onde moravam.
Por fim, o vídeo abaixo mostra uma incursão ao interior da parte habitada de um hutong (depois que se entra pela porta principal que dá para o pátio interno da antiga casa maior que originou as casas atuais). Não se preocupem muito com o som, porque a qualidade está ruim e não digo nada de muito relevante. As imagens falam por si sós.

(32MB - 320 x 240 pixels - 48 segundos)

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