terça-feira, 24 de julho de 2007

Visto para o Japão (improvável)

Dos países que eu pesquisei, o Japão é o que faz mais exigências para conceder o visto de turismo. Exigem todo tipo de comprovação de renda e pedem o roteiro detalhado da viagem, com nome e telefone de cada hotel. Quando se visita um amigo ou parente, essa pessoa deve fornecer também seus comprovantes de renda, comprovantes de endereço, carta-convite e carta de garantia. Como a minha (comprovação de) renda não é lá essas coisas, pedi para o Takaaki me fornecer esses documentos. Fiquei super constrangido em pedir tudo isso, mas achei que resolveria o problema. Ele mandou tudo na maior boa vontade.

Taxa (visto de turismo): R$ 57
Prazo para concessão: 5 dias úteis.
Validade do visto: 3 meses a partir da data de emissão

Aqui surgiu um problema parecido com o da China, pois o prazo de validade do visto não seria suficiente para eu chegar no Japão. Ligando para o consulado, perguntei se eu poderia tirar em outro país e a atendente me disse que não, porque eles não teriam como analisar os meus comprovantes de renda. A única saída seria alterar o roteiro da viagem, o que para mim já estava totalmente fora de cogitação àquela altura.

Fiquei pensando no que fazer e decidi tirar o visto no Brasil assim mesmo e depois pedir uma prorrogação quando chegasse na Índia. No meu raciocínio, o primeiro visto seria uma espécie de comprovação para o consulado do Japão na Índia de que a minha renda já tinha sido analisada e aprovada no Brasil.

Então, na segunda-feira passada fui ao consulado do Japão em São Paulo, munido de toda a documentação minha e do Takaaki. O atendente começou a analisar os papéis. Parecia tudo bem, mas ele ia e voltava nos meus extratos, como se estivesse faltando alguma coisa... Aí ele chegou na folha com a reserva dos vôos e fez um "ih". Então ele disse a mesma coisa que a moça tinha dito pelo telefone, que ainda era muito cedo para tirar o visto, porque a validade era só de três meses. Expliquei que eu sairia do Brasil dentro de duas semanas e perguntei se não era possível dar um visto que começasse a valer depois de alguns meses ou, excepcionalmente, dar um visto mais longo, ou ainda, se eu não poderia tirar o visto em outro país ao longo do caminho. Nananinaná. Aí eu perguntei se eu não poderia tirar o visto mesmo assim para facilitar um pedido de prorrogação daqui a alguns meses em outro país. Ele disse que não só não facilitaria como poderia dificultar bastante. Não entendi muito bem o porquê, mas acho que a idéia é mais ou menos assim: o Japão não vai dar a honra de visitar aquele maravilhoso país duas vezes no mesmo ano para a mesma pessoa. Ele pensou, pensou, olhou de novo aqueles papéis do começo e disse que ia falar com o superior dele para ver o que poderia ser feito.

Esperei muito tempo, cerca de vinte minutos, a ponto de me cansar de ficar em pé junto do balcão. Achei que era um bom sinal, afinal estavam realmente analisando a minha situação. Finalmente ele voltou, mas não consegui antever o resultado no seu semblante nipônico. Começou a me explicar calmamente que havia conversado com o cônsul em pessoa e que havia várias coisas que precisariam ser alteradas na minha solicitação para que eu conseguisse o visto:

1.º) A data da viagem. Eu deveria antecipar a minha chegada ao Japão para uma data dentro dos três meses de validade do visto ou retardar o início da viagem e voltar ao consulado dali a uns dois meses. Não há qualquer possibilidade de alteração nos prazos de validade do visto.

2.º) Comprovação de que eu trabalhei para a IBM (de preferência nos projetos em que o Takaaki estava, pois apenas a carta dele dizendo isso não bastava) ou em alguma outra empresa que não a minha. A minha carteira de trabalho totalmente vazia, apenas com um estágio na Siemens em 1994, também não ajudou muito.

3.º) Mais comprovantes de renda (na verdade, um eufemismo para dizer "comprovação de mais renda"). É verdade que eu me esqueci de imprimir duas aplicações, mas acho que uma dezena de milhar de reais a mais não iria mudar muito a situação. Por outro lado, seria muito fácil "fabricar" um extrato polpudo, editando o html antes de imprimir, mas eu não faria isso.

Ou seja, de maneira muito gentil, ele me disse que eu não poderia tirar o visto naquele dia porque a minha chegada no Japão ainda estava muito longe, mas, mesmo que não estivesse, provavelmente meu pedido seria negado por falta de recursos para fazer uma viagem de tal envergadura e por falta de lastro aqui no Brasil, algo que mostre que eu tenho motivos para querer voltar.

Para terminar, eu perguntei se seria útil trazer a escritura do meu apartamento, documento do carro ou até os extratos de outra pessoa da família, por exemplo, o meu pai. Ele hesitou um pouco antes de responder e disse: "Olha, nós não costumamos aceitar, mas na sua situação, qualquer coisa pode ajudar..."

Com esse "na sua situação" fui embora e fiquei triste e pensativo o resto do dia.

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